segunda-feira, 1 de março de 2010

Notícias desde Cuba - Carta a um amigo

Oi, tudo bem?


Olha, ontem, dia 27 de janeiro, participamos de uma marcha de tochas. Foi incrível! Vou lhe contar.

Dia 28 de janeiro, é aniversário do José Martí, um herói para os cubanos, que esta completando 157 anos do seu nascimento. Esse herói foi um intelectual e militante político que dedicou sua vida pela independência dos povos da América Latina e Cuba, principalmente, na época da colonização espanhola. O Fidel sempre cita ele nos discursos. Então, na noite do dia 27 fomos para Havana para participar de uma marcha que existe até mesmo antes da revolução, uma marcha, assim como o natal que se inicia no dia 24 de dezembro esperando o dia 25. Na noite do dia 27 todos vão para frente da Universidade de Havana, onde saem, incrivelmente cerca de 30 mil pessoas carregando tochas acesas e marchando pelas ruas de Havana. Meu caro, foi a coisa mais linda que eu já vi! A juventude alegra, feliz, cantando, celebrando o natalício de um herói nacional. Não dá para acreditar que 30 mil pessoas vão às ruas, numa quarta feira, para marchar à meia noite! Essa história que o povo cubano vai às ruas obrigado pelo governo é uma grande idiotice. Naquele dia, eu não vi sequer um policial ali, não havia nenhum agente do estado para reprimir ou coisa parecida. Milhares de pessoas com tochas na mão, marchando e cantando alegremente a oportunidade de estarem juntas celebrando uma data muito importante para eles. Eu fiquei na frente da marcha e quando olhava para trás via uma multidão sem fim, com os fogos acesos, num mar de gente culta, consciente, firme e resistente. Aquelas milhares de tochas acesas parecia uma chama só. Uma gente guerreira, que está permanentemente em luta. Foi incrivel, meu caro! O povo cubano é realmente livre! Mas não é uma liberdade burguesa, individualista. É uma liberdade coletiva, que escolhe o caminho, que traça seu destino... É uma liberdade ampla, liberdade de ser culto, de compreender o momento histórico. Liberdade de ter clareza quem são seus aliados. Liberdade de saber e ver quem é o inimigo. A educação os tornou livres! É um povo pensante, que resiste firmemente diante das dificuldades que enfrentam, e que são muitas e todos eles sabem disso. Mas acima de tudo, um povo unido pelo sentimento de pátria, algo que o povo brasileiro ainda não teve a felicidade de sentir. Um povo que escreveu sua própria história e continua marchando, após 51 anos de triunfo revolucionário, após meio século de um criminoso bloqueio econômico que afeta suas condições de vida, mas ao mesmo tempo os tornam mais forte e unidos para enfrentar o grande inimigo que a todo momento os ameaça. Um povo revolucionário que lembra cotidianamente seus mártires, seus lutadores que caíram na luta, seus heróis que não são duques aristocratas nem generais entreguistas. Seus heróis são outros: estudantes rebeldes, soldados revolucionários, trabalhadores, intelectuais do povo. Seus heróis são seus atletas aguerridos, seus poetas e músicos politizados... O maior patrimônio de Cuba não é a biotecnologia, não são seus carros de meio século, não é o Capitólio, não é seu tabaco, não é seu rum. É seu povo. Digno. E dignidade coletiva se conquista não com uma lei ou uma sentença, mas com uma revolução. Só a ruptura das estruturas sociais antigas podem fazer emergir uma nova sociabilidade, que tenha na solidariedade e na valorização da dignidade do homem seus maiores princípios.

Dignidade cidadã. É isso que eu vejo aqui. O povo cubano é o povo mais digno do mundo.

É o que lhe conto.

Forte abraço!

Havana, 28/01/2010.
 

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