segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

40 anos depois, 40 anos depois


Há uma esposição excelente ocorrendo no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal. É sobre fotos e imagens da época da ditadura militar. Algumas são inéditas e foram selecionadas nos arquivos dos jornais da época, quando as Redações sofriam com a CENSURA externa e interna. As legendas das fotos são originais e e isso fica bem ressaltado em toda a esposição.

Mas o que há de interessante mesmo é o cenário montado pela curadoria da esposição. Num espaço não convencional do Centro Cultural reproduziu-se, por completo (ou quase) o espaço de tensão urbana do período de maior acenso do movimento estudantil e de vanguarda. Durante a esposição, se caminha sobre o asfalto, (exatamente!), há uma cópia fiel do ambiente urbano: alfato no chão, muros pichados com palavras de ordem, letreiros e até uma oficina mecânica dá o tm da clandestinidade... tudo isso acrescido de um visual que provoca sensações, reflexão e sentimentos daquele período. O excesso de imagens (da polícia, dos estudantes, dos rebeldes, dos guerrilheiros, dos revolucionários) produzem a tal sensação. As legendas produzem revolta a cada leitura das palavras "reprimidos", "torturados", "assassinados".

Essa foi uma das poucas esposições que frequentei que me fizeram mergulhar no universo arquitetado. A esposição interage e nos faz voltar ao tempo, lembrando-nos que muitos lutaram, muitos foram exilados e e muitos foram "para nunca mais". A subjetividade produzida pela esposição, na verdade, nos desperta para aquilo que é a nossa condição humana: a ação, ação no espaço público, a luta pela transformação da realidade, das coisas, a luta pela mudança do mudo.

Se, naquele tempo, os estudantes, os guerrilheiros, cada qual inserido nas mais variadas teses revolucionárias, cada organização política com sua leitura e suas táticas, fizeram história, hoje precisamos saber que a história precisa mais de nós do que nunca. O capitalismo nunca produziu tanta miséria. O neoliberalismo aniquilou a possibilidade de efetivação de direitos legalmente consagrados. A criminalização dos movimentos sociais é sutilmente introduzida no imaginário da popúlação em pleno regime democrático-liberal. Enxergar essas contradições é fundametal para prosseguirmos na luta dos companheiros que se foram. É precso saber somos muitos e ainda há muito o que fazer. A vida daqueles que foram "para nunca mais" não pode ter sido em vão. Não pode ter sido.

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